O caixa da Sociedade Viva Cazuza está zerado. Sobrevivendo dos direitos autorais do cantor Cazuza (falecido em julho de 1990) – que não cobrem 10% dos gastos da fundação, que assiste a crianças carentes portadoras do vírus da Aids – a entidade vive momentos dramáticos. Enquanto aguarda a doação prometida pelo ator Theo Becker, há algumas semanas, Lucinha Araújo – mãe de Cazuza – pediu uma audiência com o Presidente Lula, para buscar ajuda financeira. Sem ajuda das empresas privadas e da classe artística, ela desabafa: “A Aids saiu de moda e as pessoas esqueceram de nós”!
Em conversa com O Fuxico, a mãe de Cazuza dá detalhes sobre o atual drama da fundação:
O Fuxico: Ao deixar A Fazenda, reality show da Record, Theo Becker disse que faria uma doação à Sociedade Viva Cazuza. O depósito já foi feito?
Lucinha Araújo: Ainda Não. Estou muito ansiosa para receber a doação do Theo Becker, pois a necessidade é realmente grande. A Viva Cazuza é muito respeitada pelo seu trabalho, mas as doações estão cada vez menores. A Aids está sendo deixada de lado.
OF: De que maneira a sociedade e as empresas privadas poderiam ajudá-la?
LA: A Sociedade Viva Cazuza sobrevive dos direitos autorais do Cazuza, que hoje não cobrem 10% de nossos gastos, doações, eventos beneficentes e eventuais convênios públicos. A Aids saiu de moda e as pessoas esqueceram de nós. Nunca passamos por tanta dificuldade financeira. Não conseguiremos sobreviver muito tempo, se não houver uma mudança na captação de recursos. Quem quiser nos ajudar, pode fazer um depósito em nossa conta corrente 26901-8, Banco Bradesco, Agência 887.
OF: A senhora pediu uma audiência com o Presidente Lula. Já tem uma previsão de quando ele poderá recebê-la?
LA: Infelizmente, não. Mas, espero que seja o mais breve possível e que seja coincidente com minhas datas. Também sou uma pessoa muito ocupada.
OF: De que maneira a senhora avalia o desempenho do governo, em relação a essa doença?
LA: O programa brasileiro é reconhecido internacionalmente. Mas fico preocupada, porque estamos vendo o número de jovens contaminados aumentando a cada dia e um trabalho de prevenção cada vez menor.
OF: A questão financeira não é o único desafio que a Viva Cazuza enfrenta?
LA: Não. O convívio com uma doença que não tem cura, já é um grande desafio por si só. Hoje, estamos vendo a primeira geração de adolescentes que nasceram com HIV e ela traz, além de todos os problemas de quem trabalha com adolescentes, o início de uma vida sexual marcada pelo estigma, insegurança, preconceito, revolta etc. Não é nada fácil.
OF: Acha que a mídia abandonou esse assunto?
LA: A Aids já não assusta tanto, porque a qualidade e quantidade de vida dos pacientes é bastante diferente do que foi até meados dos anos 90. Após esse período, acho que saiu de moda mesmo. E a mídia vive de modismo. Agora só falam em gripe suína, amanhã será outro tema e assim por diante.
OF: O que falta no cotidiano desses pacientes?
LA: Tranquilidade de ter uma vida com saúde. Hoje, a preocupação com a contaminação diminuiu, porque as pessoas acham que basta tomar o coquetel e tudo bem. A qualidade e quantidade de vida podem ter aumentado, mas ser HIV positivo não é fácil. A Aids está sendo banalizada e tenho medo desse pensamento, porque ele pode ser responsável pela contaminação de muitas pessoas.
LA: Diminuiu muito, mas infelizmente ele existe e acho que existirá sempre. O preconceito não é racional, caso contrário não existiria preconceito de cor, religião etc.
OF: Em julho de 2010 completará 20 anos da morte do Cazuza. A Globo fará alguma homenagem a ele?
LA: Não sei. Também não temos nenhum evento em mente, mas ficarei muito feliz com as homenagens que fizerem a meu filho.
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